O conteúdo desta página foi copiado (sem permissão, mas para uma boa causa) do livro Curso Prático de Gramática, Ernani Moura, Editora Scipione, 5a. Edição, pp. 262-265, ISBN 85-262-0582-X.
Introdução
A palavra crase provêm do grego krasis e significa fusão, junção. Em Português, ocorre a crase de duas vogais idênticas (a + a = à) . Tal fusão é indicada através do acento grave.
Pode ocorrer a fusão da preposição a com:
a) o artigo feminino a ou as:
Fui a a feira. Retornamos a as praias.
Fui à feira. Retornamos às praias.
b) o a dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo:
Fui a aquele lugar.
Fui àquele lugar.
c) o a do pronome relativo a qual e flexão (as quais):
A cidade a a qual nos referimos fica longe.
A cidade à qual nos referimos fica longe.
d) o pronome demonstrativo a ou as (= aquela, aquelas):
Esta caneta é semelhante a a que me deste.
Esta caneta é semelhante à que me deste.
Crase da preposição a com o artigo a(as)
Regra geral: haverá crase sempre que o termo anterior exigir a preposição a e o termo posterior admitir o artigo a ou as.
Eu me referi a (prep.) a (art.) diretora.
Eu me referi à diretora.
Fui a (prep.) a (art.) cidade.
Fui à cidade.
É fácil constatar nesses casos que houve crase. Se, ao trocarmos o termo posterior por um masculino correspondente, obtivermos ao, podemos perceber claramente a presença do artigo e, portanto, da crase antes dos termos femininos.
Eu me referi ao diretor.
Fui ao bairro.
Veja que, para que ocorra crase, é necessário que o termo anterior exija preposição a e o termo posterior admita o artigo a. Se um desses fatos não ocorrer, evidentemente não ocorrerá crase.
Eu conheço a diretora.
Eu me refiro a ela.
Trocando pelo masculino:
Eu conheço o diretor.
Eu me refiro a ele.
Crase diante de nomes de lugar
Com os nomes femininos que designam lugar pode ou não haver crase, uma vez que certos nomes de lugar aceitam o artigo a, ao passo que outros o repelem.
Para se verificar se um nome de lugar aceita ou não o artigo a, usa-se o seguinte artifício: se, ao formularmos uma frase com um nome de lugar mais o verbo vir, obtivermos a combinação da, cabe o artigo. Se obtivermos simplesmente a preposição de, claro está que não cabe o artigo.
Vou à Itália. (Venho da Itália).
Vou à Argentina. (Venho da Argentina).
Vou a Roma. (Venho de Roma).
Vou a Curitiba. (Venho de Curitiba).
Observação:
Se o nome de lugar que repele o artigo vier determinado, passará a aceitá-lo e, conseqüentemente, haverá crase.
Vou à Roma antiga.
Vou à velha Curitiba.
Crase com as palavras casa e terra
Não ocorre crase diante das palavras casa (no sentido de lar, moradia) e terra (no sentido de chão firme), a menos que venham especificadas.
Voltamos cedo a casa.
Os marinheiros desceram a terra.
Mas,
Voltamos cedo à casa dos amigos.
Os marinheiros desceram à terra dos anões.
Crase com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo
Haverá crase com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo sempre que o termo antecedente exigir a preposição a.
Assisti àquele filme.
Aspiro àquela vaga.
Prefiro isto àquilo.
Crase com os pronomes relativos
1. Poderá ocorrer crase com o pronome relativo a qual e flexão (as quais).
A cidade à qual iremos possui praias às quais chegaremos.
Observação:
É fácil constatar a crase neste caso, utilizando-se o artifício de trocar os termos femininos por termos masculinos correlatos.
O país ao qual iremos possui recantos aos quais chegaremos.
2. Nunca ocorre crase diante dos pronomes relativos quem e cuja.
Esta é a mulher a quem obedeço.
Este é o autor a cuja obra me refiro.
Crase diante do pronome relativo que
Diante do pronome relativo que normalmente não há crase, uma vez que esse pronome repele o artigo.
Esta é a faculdade a que aspiro.
Esta é a cidade a que iremos.
Ocorrerá, no entanto, crase antes do pronome relativo que quando antes dele aparecer o pronome demonstrativo a ou as (= aquela, aquelas).
Sua caneta era igual à que comprei.
Em caso de dúvida, pode-se verificar se ocorre ou não crase pelo recurso da substituição dos termos femininos por masculinos.
Este é o curso a que aspiro.
Este é o bairro a que iremos.
Mas,
Seu lápis era igual ao que comprei.
Nunca ocorre crase:
1. diante de palavras masculinas:
Fiz referência a filmes antigos.
2. diante de verbos:
Estou disposto a estudar.
3. nas expressões formadas por palavras repetidas:
Ficamos frente a frente.
4. diante de pronomes que repelem o artigo:
Dirijo-me a Vossa Excelência.
Fiz alusão a ela.
Isto não interessa a ninguém.
Observação:
Evidentemente, se o pronome admitir artigo, haverá crase.
Dirijo-me à senhora.
Fiz alusão à mesma aluna.
Isto interessa à própria candidata.
5. quando um a (sem o s de plural) estiver diante de uma palavra no plural:
Refiro-me a alunas interessadas.
Falava a pessoas interessadas.
Sempre ocorre crase:
1. na indicação do número de horas, desde que, se trocando este número por meio-dia, obtenha-se ao meio-dia:
Chegou à uma hora em ponto. (Chegou ao meio-dia em ponto.)
Saí às quatro horas. (Saí ao meio-dia.)
Mas,
Estou aqui desde as sete horas. (Estou aqui desde o meio-dia.)
2. diante da palavra moda da expressão à moda de, mesmo que a palavra moda fique subentendida:
Fez um gol à Sócrates.
Possui um estilo à Eça de Queirós.
3. nas expressões adverbiais femininas:
Chegaram à noite.
Caminhavam às pressas.
Agia às escondidas.
Estava à disposição.
Sentaram-se à sombra.
Estou à procura de ajuda.
Observações:
Nas expressões adverbiais femininas, muitas vezes ocorre acento grave sem que haja crase (fusão).
Vendi à vista o relógio que ganhei.
Nas expressões adverbiais femininas de instrumento não se costuma usar acento grave.
Eles escreveram a máquina.
Saíram num barco a vela.
Pode ou não ocorrer crase (crase facultativa):
1. diante de nomes de pessoas do sexo feminino:
Ele fez referência a (à) Sandra.
2. diante de pronomes possessivos femininos:
Obedeço a (à) minha irmã.
3. depois da preposição até:
Fomos até a (à) feira.
Observações:
A crase diante de nomes de pessoas e de possessivos femininos é facultativa porque nesses casos o uso do artigo é facultativo.
Sandra chegou. (A Sandra chegou.)
Minha irmã saiu. (A minha irmã saiu.)
Depois de até a crase é facultativa porque se pode usar simplesmente a preposição até ou a locução prepositiva até a.